Eu me procuro | Poética

Coluna Eu me procuro. Poemas do advogado e escritor parnaibano, Diego Mendes Sousa

Poema de Diego Mendes Sousa, fotografia de Jairo Nunes Leocádio. Continua depois da publicidade

Poética

Quero que o meu poema seja terra a terra. Sincero como a paisagem do rio da minha terra. Belo como a alma dessa terra: casa incendiada, explosão acontecendo.

Meu poema é como a tarde que se afoga em chuva, como a noite dos mistérios, turvas manhãs às claras. Meu poema com rosto de solidão, com curvas de lamentos e auroras de mágoas.

Meu poema, fugaz ser do mar, pássaro consumido. Ilha de dor, espantado e revolto.
Ondas de um tempo exilado, massacrado e morto,
essas águas insones.

Meu poema sem vestígios, porém com sangue e voo. Meu poema, meu martírio.

Meu poema com gestos de delicadeza. Meu poema em leito de vida, margens protestadas do sonho, sinos dobrados e bêbados da derrota. Às águas, o meu desespero! Espelhos d’água, a minha terra, o meu poema. Meu poema, assim na terra como no céu. Meu poema, como preceito de um revelado bálsamo irreal. Meu poema, de coração detonado. Túnel vazio, imagens devassas, praias iluminadas. Meu poema desfolhado e amargo. Meu poema como herança, cemitérios de ruínas.

Meu poema, destruição e contemplação.

Fotografia de Jairo Leocádio – Rio Igaraçu, na Parnaíba, litoral norte do Piauí

 

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