O desencanto dos PTistas históricos

Intelectuais e militantes éticos que fundaram o PT, e depois o deixaram – discordando da política de cooptação, corrupção e autoritarismo –, olham agora para a legenda e enxergam nela um arremedo de partido.

O PT é que saiu de mim”… Assim, solta, essa frase não passa toda a força do sentido que tem. Mas vamos guardá-la, ela voltará ao final desse texto, e aí soará lógica e potente. Por enquanto, fica anônima…

O que aconteceu com Lula? O que aconteceu com o PT? Claro que toda formação partidária almeja o poder, e o tal poder chegou em 2003 com a posse de Lula na Presidência da República. Abraham Lincoln ensinou: “para descobrir o caráter de um homem, dê poder a ele”.

Pois é, o Brasil descobriu o caráter de Lula. Ele mudou? Vai ver que sempre foi assim, e no Lula das greves da Vila Euclides talvez já habitasse o Lula do “mensalão” e do “petrolão”… mas voltemos à Presidência do Brasil.

“Atualmente, quando olho a imagem de Lula, fica claro que ele não tem caráter, foi um oportunista como presidente”, afirma Francisco de Oliveira, um dos mais conceituados sociólogos da América Latina. Ele diz que “Lula é mais esperto do que se imagina”. Sem dúvida. Jogando com essa esperteza ele tentou nos iludir falando em coalizões partidárias mas exercendo, na verdade, a cooptação política.

Se é fato, como escreveu Marshall Berman, a partir de uma frase de Karl Marx, que “tudo que é sólido desmancha no ar”, o antes sólido PT desmanchou no chão! Coalizões partidárias integram o pacto democrático, mas não têm nada a ver com a cooptação que conduz ao aparelhamento do Estado e à corrupção.

Em 2005, a diáspora já em andamento dos condestáveis que fundaram o PT foi acelerada com o escândalo do “mensalão”. “O PT trocou um projeto de Brasil por um projeto de poder”, diz Carlos Alberto Libânio Christo, o dominicano Frei Beto.

Finalmente, voltemos à frase do início desse texto, e agora sim, exposto o real perfil do PT, ela faz todo sentido. Seu dono foi Plínio de Arruda Sampaio (falecido em 2014), um dos mais éticos homens públicos do Brasil. Fundou o partido e vinha de todas as correntes: mantinha laços com a Igreja Católica, com o movimento sindical, com a luta contra a ditadura e com o estamento intelectual. Quando, ao desfiliar-se, Plínio disse que “o PT é que saiu de mim”, deu uma clara lição: ele permaneceria com a moral e a ética que sempre teve, o PT é que fosse andar. Então é isso, quem é bom não muda!

Foi o PT que mudou e perdeu tanta gente de primeira qualidade nesse País.

 

Fonte: istoé

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