Brasileira deixa a vida na Espanha e volta ao país natal, onde realiza sonho de iniciativa de inclusão social através do kitesurfe e forma atletas de sucesso na modalidade.
Um amor, uma crise e um sonho. Três fatores que mesmo sozinhos poderiam mudar a história de vida de qualquer pessoa. Uma brasileira radicada na Espanha voltou ao seu país natal para ganhar 100 filhos. Nos últimos 06 dos seus 50 anos – “com carinha de 28″, segundo ela.
Isabel Lupiañez coordena em Barra Grande, no Piauí, o Projeto Vivo, uma iniciativa de inclusão social através do esporte. E como se não bastasse o lado filantrópico, ela ainda criou uma fábrica de campeões.
Isabel morou 22 anos na Espanha, terra de seu falecido pai. Sua vida era atribulada: trabalhava como agente imobiliária em Andorra, um pequeno principado formado por povos pireneus entre a França e a península ibérica, e morava nas Ilhas Baleares. Depois de muito tempo nutrindo o sonho de trabalhar com crianças e com os negócios indo mal das pernas após a crise econômica de 2008, ela decidiu voltar ao país. Sua motivação vinha também do coração: João Bosco, seu companheiro e coach da IKO (Organização Internacional de Kitesurfe), que cresceu em Barra Grande. O tempo uniu o útil ao agradável e o casal aportou no Brasil usando o kitesurfe como instrumento de inclusão social.
“Cheguei aqui no Nordeste e me empolguei. Conheci a Barra Grande e me apaixonei. Esse lugar é lindo, mágico. Eu vi muita criança aqui com tempo ocioso, na rua, e preocupada, além da vontade, comecei logo. Tem seis anos que estamos com o projeto. Aqui é o país dos bons ventos. A região nordeste, com os ventos alísios é um dos melhores lugares para a prática do kitesurfe, e como eu sou instrutora de kite e de snowboard, eu aliei as paixões. Mas como não venta do mesmo jeito o ano todo, temos também o futebol. Também trabalhamos com vôlei, slackline, esportes de praia… Além de tudo fazemos um acompanhamento escolar, os alunos precisam ter boas notas, um trabalho de consciência ambiental, para valorizar a natureza” – contou.
Nunca pensei que seria fácil. Por ter sido atleta, eu sei que por trás dos resultados sempre tem muito trabalho, não é fácil, tem que ter foco e determinação. Nós não temos apoio de empresas ou governamental. Meu apoio é a minha vontade de fazer, a ajuda que tenho da comunidade, das famílias, ex-alunos e do Bosco. É muito difícil, estamos atrás de apoio seja público ou privado. Depois de seis anos, nós trabalhamos com 100 crianças. E tem muita gente que queria participar. Me dói muito dizer não para o sonho de uma criança, mas infelizmente tenho que fazer de vez em quando, porque não temos condições de atender mais gente. Eu tenho uma escola de kitesurfe, que sou instrutora, e os lucros dela me ajudam a manter o projeto. Nunca pensei que teríamos um resultado esportivo tão expressivo, crianças que começaram comigo no circuito mundial nem o único atleta da América Central e do Sul na modalidade nas Olimpíadas da Juventude. Isso tudo é uma bênção. O Manoel chegou aqui há quatro anos. Ele tem muito talento para o esporte, mas acima de tudo é muito dedicado, esforçado, e evoluiu muito na escola, fora do Projeto, é um menino de ouro.