O PT mudou muito e se descaracterizou

Em entrevista o ex deputado do PT, Jesus Rodrigues disse que o antigo partido mudou muito, e que Wellington Dias se tornou um político pior do que os convencionais. Para ele o atual governador é um dos responsáveis pela derrocada petista.

O ex-deputado federal Jesus Rodrigues concedeu uma entrevista onde o político que durante décadas foi filiado ao PT, falou sobre o que tem feito nos últimos anos desde que deixou o Congresso Nacional, comentou sobre sua pré-candidatura ao Senado pelo Psol (Partido Socialismo e Liberdade) e fez duras críticas a Wellington Dias, seu ex-companheiro dos tempos de PT.

Jesus disse que o antigo partido mudou muito, avalia que “Wellington se tornou um político pior do que os convencionais” e afirma que saiu porque a sigla seguiu caminhos que sua conduta ética e moral não aceita.  Para Jesus, o atual governador é um dos responsáveis pela derrocada petista, pois rasgou a democracia do partido no estado.

CONFIRA A ENTREVISTA

PD – O que o senhor tem feito desde que deixou o mandato de deputado federal em 2014?
JR – Eu tenho atividades empresariais e alguns negócios. Eu ajudei a criar uma cooperativa de suinocultura e abri uma fazenda no interior. Então estou dando conta de algumas tarefas pessoais. Eu não sou um profissional da política ou do serviço público, inclusive já estou aposentado como bancário. Nesse período, também viajei bastante pelo interior conversando com as pessoas. Agora eu pretendo intensificar minha campanha, minhas viagens e meus contatos com vistas a eleição de 2018.

PD – Qual proposta o senhor vai levar para o eleitor? Com qual mensagem vai trabalhar?
JR – Olha, vou levar justamente a mensagem de um perfil diferente de candidato. Eu estava deputado federal, tinha uma boa chance de me reeleger, ajudei a eleger a presidente da República e o governador do Estado e saí sem nenhum cargo, sem nenhuma função por divergências ideológicas, reconhecendo acertos na área econômica e não aceitando os erros na parte da ética. Então, para manter a coerência, eu me afastei do PT e hoje sou filiado ao Psol. Essa é uma compreensão que eu acho que as pessoas precisam ter, de que nós precisamos de um perfil diferente de político. Eu não sou um político profissional, embora faça política há muitos, até por conta do meu tempo de sindicato e de grêmio estudantil na UFPI. Então será uma mensagem de perfil, principalmente. Outra coisa que é importante ressaltar para a população, é o poder que tem um deputado federal e um senador, coisas que o eleitorado, de uma maneira geral, não valoriza muito. Nesses quatro anos que passaram nós vimos o poder de decisão que está na mão de um deputado federal. Tiraram uma presidente alegando motivos burocráticos e mantêm um presidente com graves suspeitas e até crimes cometidos no exercício do mandato. Conseguiram aprovar, ainda, medidas que são extremamente prejudiciais ao conjunto da população e estamos na iminência de reformas substanciais na Previdência. Então as pessoas precisam compreender esse poder que tem um deputado. Não tenho nada contra a existência de ruralistas, acho que eles devem existir, não tenho nada contra os liberais que querem o Estado mínimo. A questão é a proporcionalidade. Quantos nós temos lá dispostos a defender os interesses dos trabalhadores rurais, do salário mínimo e dos desempregados?

PD – O que o senhor acha que falta nos representantes do Piauí?
JR – Essa é uma queixa que eu tenho de muito tempo. Para mim, o último grande pensador do Piauí, das questões estruturantes do Piauí, chame-se Alberto Silva. Depois dele, nenhum outro conseguiu projetar trabalhos e ações estruturantes. Em regra, o político do Piauí pensa nos quatro anos, no máximo na sua reeleição, mas não em projetos e ações que possam representar uma mudança na condição de vida da população. Em regra, o político do Piauí pensa pequeno e tem a cabeça pequena. Infelizmente o político daqui tem uma cabeça que não sonha, que não projeta e isso é lamentável. Meu plano não é ser senador da República, é ser senador do Piauí para cuidar de coisas que são do Piauí. Claro que o Senado é uma casa da República e nós vamos ter assuntos nacionais, mas vou focar no Piauí. Nós tivemos o lançamento, ainda no primeiro governo Lula, da transposição das águas do Rio São Francisco. O Piauí é o único estado onde nem o estudo de viabilidade técnica e ambiental da transposição foi realizado. E talvez seja o mais próximo de todos, porque o rio São Francisco passa próximo a região de São Raimundo Nonato. Outra coisa é a questão da navegabilidade do Rio Parnaíba. Não vimos a viabilidade financeira, porque a navegabilidade do rio não vai se pagar por conta da quantidade de barcos que passam na eclusa, mas é possível se fazer, é necessário se fazer e o projeto está engavetado lá. Tem ainda o Porto de Luís Correia. Em regra, a cabeça do político do Piauí pensa pequeno. Eu quero resgatar os trabalhos de grande importância para o Piauí e trazer uma nova lógica de atuação parlamentar.

PD – Como o senhor pretende se viabilizar pelo Psol concorrendo com figuras como Ciro Nogueira (PP) e com outros que possuem, notadamente, maior poderio econômico?

JR – Justamente dizendo o seguinte: eu fui gestor público por oito anos, fui deputado federal por mais quatro anos e não tenho um processo sequer na minha vida de gestor público. Não tenho nenhuma citação na minha vida de parlamentar, em relação à Lava Jato, por exemplo. Então eu quero chamar a atenção das pessoas. Aquele parlamentar que gasta muito dinheiro em sua campanha, dificilmente vai ter compromisso em defender as pessoas que não financiaram sua campanha. Como eu acredito que o povo vai perceber a importância do voto para deputado federal e senador, eu quero me apresentar dessa forma. Se eu quisesse ter feito essa prática política convencional, eu teria ficado no PT, possivelmente teria sido eleito, poderia estar como suplente na Câmara ou ainda exercendo algum cargo ou secretaria no governo. Eu saí justamente porque vou fazer uma campanha de discurso, de debate. Dinheiro suficiente para viajar, para me hospedar, para imprimir santinho ou cartaz, eu deverei ter das minhas próprias condições. Minha campanha será de propostas. Se o povo conseguir compreender que as minhas atitudes merecem que eu retorne, assim eu retornarei. Se eu quisesse fazer campanha como o Ciro e outras pessoas, eu teria ficado no governo. Mas eu não quero esse tipo de campanha.

PD – Como o senhor tem visto o terceiro mandato do governador Wellington Dias e a intenção dele de conseguir o quarto?
JR – O terceiro mandato é um governo onde o governador é refém da questão financeira, é refém da folha. Só trabalha para pagar a folha. Tem conseguido pelo menos pagar a parte dos servidores públicos concursados, mas nem nos terceirizados tem conseguido manter. É lamentável que um governo vire refém da sua situação financeira. Eu aceito que o governo possa ser refém por absoluta incapacidade de pagar suas contas em relação às receitas que tenha, mas é inadmissível que você não consiga pagar fornecedores e tenha 61 unidades gestoras autônomas de geração de despesas, 15 deputados suplentes na Assembleia e falte dinheiro para outras coisas. Isso é lamentável. Então o terceiro governo tem sido um governo de subsistência. Ele vai buscar o quarto? Eu espero que o quarto, ou o próximo governo caso ele não venha a ganhar, saia dessa linha de governo de subsistência e de praticar a mesma política que os ancestrais faziam. Ancestrais que digo as pessoas do século XIX e século XX. O Piauí merece um governo melhor e políticos mais responsáveis e dedicados. Eu sou socialista porque a minha preocupação é com a sociedade como um todo e ela como um todo tem empresários, tem trabalhadores, tem negros, tem mulheres, tem crianças, tem extrema pobreza e tem gente extremamente rica. Eu sou socialista porque quero cuidar, para que a sociedade, no seu conjunto, tanto os mais ricos como os mais pobres, tenha um equilíbrio melhor. O que temos hoje está muito ruim.

PD – O senhor já foi partidário do governador Wellington Dias. O que mudou no governador?
JR – Mudou no PT de maneira geral. O que mudou foi o comportamento político, para o convencional, de grandes lideranças como o Lula e o Wellington. O Wellington hoje trabalha uma política convencional muito pior do que aquela que ele criticou. Ao chegar no governo, foi se envolvendo, se perdendo e hoje é uma liderança política mais convencional, fazendo pior do que fez o Mão Santa do ponto de vista da ética, do que fez o Lucídio Portela do ponto de vista dos seus acordos políticos e do que fez Alberto Silva e qualquer outro. Nunca na história desse estado eu vi 15 suplentes na Assembleia Legislativa. Nada contra os suplentes, mas na medida em que você cria secretarias como cargos políticos e passa a gastar muito mais dinheiro público com a política e não com os servidores, com investimentos ou com os projetos, aí é um erro que não dava pra conviver. Tentei mudar, tentei segurar o partido no caminho de que a gente mantivesse as nossas raízes. Fui candidato a presidência do partido em 2007 e perdi. Tive uma convivência com o PT a nível nacional e percebi que, da mesma forma que no Piauí, o partido nacional era controlado por um grupo muito reduzido. Rasgaram a democracia interna do partido e o poder de decisão que ele tinha. Em 2010, nós aprovamos em congresso que o vice de Wilson Martins seria do PT, mas o Wellington Dias rasgou isso. Agora o partido novamente aponta em seu congresso que a quer a vaga de senador, mas dificilmente o governador vai respeitar a democracia interna do partido. Por isso, houve o rompimento ideológico.

PD – E as relações dele com empresas?
JR – Na questão das relações com empresas para arrecadação de campanha, realmente se perdeu a noção e o limite. Eu digo isso porque eu fui o tesoureiro da campanha de Wellington Dias em 2002, fui na campanha de 2000, de 1998, de 1996. Quase todas. E a partir de 2002 eu não fui mais. Parece que começou assim uma profissionalização, uma coisa complicada… Então essa parte da relação com as empresas as pessoas perderam a noção do que é arrecadar e do que, dentro da lei até, é receber um recurso de campanha.

PD – O senhor entende que é um desrespeito do PT deixar a senadora Regina Sousa de fora da chapa?
JR – Não. É um desrespeito do governador Wellington Dias, porque o PT decidiu que quer a vaga de senador. O partido quer. É aí onde eu digo: os principais responsáveis pela derrocada ética do PT são as suas maiores lideranças. O Wellington Dias e inclusive a própria Regina, que jamais vai levantar a voz para ele. Ela levanta a voz para todo mundo, mas para o Wellington ela é “sim senhor”. Então veja: essas grandes lideranças como Lula, Zé Dirceu, Palocci, todo esse pessoal que comandou o partido a nível nacional, são responsáveis pela sua derrocada ética. E aqui no Piauí o Wellington Dias, a Regina, o Assis Carvalho, o Fábio Novo, todo esse pessoal é responsável pela derrocada ética. A base do PT é mais coerente, é mais progressista, mas a sua cúpula tem levado o PT para uma situação muito complicada.

PD – Como vê a situação do ex-presidente Lula?
JR – A situação dele, com essa criminalização e essas acusações que vem sofrendo, que eu acho, inclusive, de uma maneira tendenciosa. Eu digo o seguinte: se é para pegar o Lula porque querem inviabilizar sua campanha acelerando um processo que ele tinha, pois a Justiça que agiu desse jeito tem que pegar os processos de todos os outros que pretendem ser candidatos em 2018 e acelerar também o julgamento. Acelerar o processo do Lula e não acelerar o de Aécio, de Jucá, de Padilha e dos outros todos, é um equívoco da Justiça. A Justiça vai começar a também criar uma imagem pra ela igual à do político de hoje, uma imagem extremamente negativa. Se a Justiça não fizer justiça, vai ter para ela mesma imagem que o Poder Legislativo e o Executivo tem. Eu defendo assim: os gestores públicos tem que pagar pelos erros que cometeram, mas todos. Não só de um partido ou de uns que estabeleceram políticas diferentes da ordem social, porque na ordem da distribuição de renda e da assistência aos mais fragilizados, o governo do PT conseguiu ter sucesso. Agora, outros setores envolvidos num tipo de política que privilegia segmentos mais abastados, não podem se comportar como membros de classe.

PD – Estamos numa época das Esquerdas se reinventarem?
JR – Eu fui para o Psol porque eu pretendo ser coerente com a política. As pessoas que querem ser coerentes no discurso que fazem nos eventos e quando chegam nos mandatos são coerentes com os discursos, é com essa turma que eu quero ficar. Por isso fui para o Psol. Não podemos fazer política com intransigência, onde só o que eu penso é o correto. Não se faz política assim. Mas também não posso fazer política onde tudo é permitido, permissividade total. Foi por isso que eu saí do PT. A Esquerda, onde estou hoje, no Psol, e eu sou candidato socialista porque quero cuidar da sociedade como um todo, ela precisa, no meu entender, romper com alguns paradigmas, com a Revolução de 1917 da União Soviética, com Stalim, Trotski, com Lênin, com Fidel, mas no sentido de que nós precisamos, no momento que nós estamos, buscar um outro tipo de sentimento. Eu digo que esse sentimento é novamente o da ética na política, o da coerência, o de se descobrir o papel que um deputado, um prefeito ou um vereador tem a desempenhar na sociedade. Então é esse tipo de política que eu espero que a Esquerda faça. Eu nunca defendi, porque eu sou de Esquerda, que se deve estatizar o setor financeiro, estatizar tudo e que os meios de produção têm que ficar nas mãos dos trabalhadores, a revolução proletária e tal. Eu nunca defendi isso nem quando estava iniciando no PT em 1980. Hoje estou no Psol porque quero trazer pessoas, cidadãos comuns, professores, pequenos comerciantes, autônomos, sem precisar que ela seja a pessoa que tenha uma carteirinha de comunista, de socialista que defenda aquelas ideias revolucionárias, socialistas, etc. Tem que ser uma pessoa que queira uma prática política nova e que assuma o compromisso de ser coerente entre o que ela faz no discurso quando é candidata e o que faz lá na prática.

Fonte: politicadinamica

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